quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Autoritarismo x Democracia Participativa.

Paulo Freire já dizia: “Educar para a vida”, mas eu me pergunto: que vida? Para a vida do asfalto ou para vida da favela? Perdão, favela não “comunidade”.
Quais as opções que um menino realmente pobre tem hoje na cidade do Rio de Janeiro?
Toda sua jornada se inicia ainda na gestação, com sua mãe doméstica dispensada do serviço por estar grávida; subnutrida porque não tem dinheiro para comida quem dirá para a passagem de trem até o hospital público mais próximo para entrar na fila de espera e tentar realizar o pré-natal. E ainda dizem que não há pena de morte e nem controle de natalidade. Filho de pobre, se nascer com vida, já escapa da sua primeira pena de morte; e quanto ao controle de natalidade, nada mais barato que este método, e se der sorte mata-se dois coelhos com uma cajadada só. Isso mesmo: animais! É essa a realidade. Pelo menos no zoológico o “Zagalo” ou o falecido “Tião” poderiam ser adotados pela “Coca-cola”.
Essa é a vida do carioca.
Mas o Estado ajuda, e como ajuda! O que pode ser mais democrático para o menino da nossa crônica do que dividir os bem-vindos quarenta Reais do “Bolsa Família”, entre os seus doze irmãos?
E, falando em democracia, me lembrei da gestão-democrática trazida pelo neoliberalismo.
Será que esses pais conseguirão uma folga, com a “madame”, em seus empregos de salário mínimo para poder participar efetivamente das reuniões da escola? Será que terão tempo para ver o dever de casa dos filhos? Será que eles irão, sábado, na festinha da escola das crianças? Será que este menino sobreviverá às balas perdidas na comunidade? Será que sua professora conseguirá orientá-lo para que ele não caia na tentação dos operários do morro? Será que o nosso menino resistirá à febre capitalista e negará um tênis “Nike” de presente em troca de avisos sobre a chegada da polícia? Ah...mas ele é só uma criança soltando pipa!!! Quantas questões para um menino que ainda nem chegou aos cinco anos de idade, e se não for “malandro” e der uma de “mané”, não chegará aos dezesseis.
Nessa história, ainda há mais uma vítima da cultura desse sistema, que é a diretora, que se agarra com unhas e dentes à área de favela, na promessa de receber quinhentos Reais a mais em seu contracheque. Afinal está em área de risco.
Mas uma vez o Estado ajuda. Afinal, é mais barato pagar por auxílios sociais do que sanar o problema. Até porque se o problema for sanado, qual será o novo problema que irá alavancar a próxima eleição? Eles têm que garantir, daqui a quatro anos, a vaga no Senado.
Antes o diretor era autoritário, “o rei do pedaço”. A frase chefe era: “manda quem pode obedece quem tem juízo”. Mas passamos pela dança das cadeiras.
Onde está realmente o pseudo poder? Será que sem justiça há democracia?
Hoje, o bolo está mais dividido. Há mais espaço para o exercício da democracia. Pelo menos na teoria. Todos podem participar da vida da comunidade escolar, seja como voluntário, estagiário, ou fantoche de ONG.
É uma questão delicada a virada dessa nossa cultura, mas não é impossível. Sempre há uma luz no fim do túnel. Só não podemos fechar os olhos, afinal, nada mais contraditório do que a dura realidade: pobreza gera dinheiro, e democracia mal exercida roda toda essa engrenagem.